As dúvidas dos pais: Regresso às aulas em tempo de covid-19

  • Por CompletaMente
  • 06 mar., 2021

Com a chegada do novo coronavírus têm sido inúmeras as mudanças no nosso dia-a-dia, particularmente difíceis para as crianças, já que pela sua imaturidade (esperada para a idade) têm menos facilidade em compreender realmente o que está a acontecer e lidar com os desafios que nos têm vindo a ser colocados. O próximo prende-se com o regresso às aulas. Se por um lado, isso representa o reencontro com os amigos e outras pessoas significativas, implica também um retorno a rotinas e hábitos que se foram perdendo e, agora, ainda para mais, vão ser vividos com nuances bem diferentes.

Acredito que a maior parte das pessoas compreende a natureza e importância de algumas das medidas que estão a ser apresentadas. Contudo, e embora sirvam para nos proteger do novo coronavírus, fica a questão: a que custo? Quando pensamos nas possíveis implicações das medidas que vão ser implementadas, as já conhecidas e as que estão por conhecer, enquanto pais, professores e técnicos de saúde infanto-juvenil, começam a crescer dentro de nós um conjunto de preocupações. Ainda que estas sejam válidas, julgo termos duas responsabilidades; por um lado, debruçarmo-nos sobre este assunto e identificar as potenciais consequências, só assim será possível contorná-las; por outro, considero que temos o dever de ajudar as crianças e jovens a lidar com as circunstâncias actuais.

Com frequência, quando estamos mais ansiosos ou preocupados com algo, mesmo sem nos apercebermos, o nosso comportamento altera-se, muito resumidamente, ficamos menos pacientes, há um aumento da agitação psicomotora e tendemos a focar as nossas conversas sobre esse assunto. Ora, as crianças e os jovens acabam por se aperceber disso, cada um à sua maneira, de acordo com a faixa etária e com as suas características.

O problema é que, por vezes, como não nos apercebemos deste movimento interno, acabamos por não conseguir transmitir segurança e tranquilidade, o que num momento como este é fulcral para uma boa capacidade de adaptação e manutenção do bem-estar. Com isto não pretendo passar a ideia de que o melhor é “ficar calado”, não, é essencial pensar e conversar acerca do que nos preocupa, prepará-los tranquilamente para o que vão encontrar e, no caso dos mais crescidos, construir um espaço em que eles possam também partilhar as suas preocupações. É igualmente necessário compreendermos que podem surgir problemas de adaptação e dificuldade na separação dos pais, bem como maior agitação e ansiedade, medos, etc. Tudo isto é expectável e é necessário estarmos atentos e alerta e tomar medidas quando necessário.  

Resumidamente: prepare o seu filho para o uso da máscara, seja ele a utilizar ou os adultos que o rodeiam; alerte-o para a importância do comportamento de etiqueta respiratória e higienização das mãos; informe-se das medidas que a escola irá tomar e conversem acerca delas; desmistifique fantasias/preocupações; transmita segurança e tranquilidade; mantenha um canal de comunicação com os docentes; e esteja alerta.


 Dr.ª Joana Pereira, Psicóloga Clínica do Consultório Completamente