A chucha e os seus malefícios!

  • Por Ana Vieira - Terapeuta da Fala
  • 06 mar., 2020

Os hábitos orais são definidos como comportamentos repetidos, prazerosos e inconscientes, que estão diretamente relacionados com as funções do sistema estomatognático (sucção, deglutição, mastigação, respiração e fala).

Contudo, importa distinguir os hábitos orais nutritivos, que estão relacionados com a obtenção do alimento e o desenvolvimento da criança (ex: sucção do seio materno ou do biberão nos primeiros meses de vida), dos não-nutritivos, que dizem respeito aos hábitos que não têm um papel nutritivo e podem assumir sérias implicações no desenvolvimento orofacial da criança, consoante a sua intensidade, frequência e duração, a predisposição individual e a idade da criança. Dos vários hábitos orais, deletérios, destacamos hoje a sucção não nutritiva por meio da chupeta.

A chupeta é o símbolo que mais se associa ao bebé e o hábito de sucção mais ligado à criança. As representações sociais sobre a chupeta, vão passando ao longo das gerações, a chupeta já faz parte da vida da criança mesmo quando ainda se encontra na barriga da mãe, posteriormente encontra-se pendurada na roupa da criança, é utilizada como um calmante para o choro e o mal-estar da criança (Sertório e Silva, 2005).

Existe uma série de investigações acerca da utilização da chupeta, onde uns autores são a favor da utilização da chupeta em determinadas situações. Do ponto de vista clínico alguns autores defendem o uso da chupeta, assim como a American Academy of Pediatrics, que no decorrer do sono consideram importante a sua sucção para diminuir o risco da síndrome de morte súbita durante os primeiros dias de vida do recém-nascido (O`Connor et al., 2009).

Relativamente à idade do término da chupeta, vários autores indicam que a criança deverá abandonar o hábito da chupeta e outros hábitos de sucção a parti dos dois anos de idade, de modo a não ocorrer alterações orofaciais.



Quais os malefícios do uso prolongado chucha?

É uma das causas da respiração oral. O padrão respiratório pode ser alterado de nasal (pelo nariz – correto) para bucal (pela boca). Ao respirar pela boca, o ar não sofre o processo de filtragem, aquecimento e humedecimento, deixando o sistema respiratório vulnerável a doenças.


  • O lábio superior fica encurtado, o lábio inferior fica evertido (virado para fora), ocorre a perda do vedamento labial, a pele do queixo pode ficar enrugada (face ao esforço do músculo pelo vedamento labial), as bochechas hipo/ hipertonificadas e caídas e a língua perde tonicidade ficando numa posição baixa e retraída dentro da cavidade bucal;
  • Dentição: cria alterações dentárias na mordida (mordida aberta, mordida cruzada e overjet) e/ou a formação de palato ogival (céu-da-boca fundo e estreito) que depois influenciam na articulação correta dos sons;
  • Amamentação: a posição da língua durante a amamentação é diferente de quando se usa a chucha. Na amamentação o bebé usará a posição que usa com a chucha e não conseguirá retirar o leite, ficando irrequieto com fome e sede, rejeitando por vezes o peito da mãe;
  • Mastigação: deixa os músculos das bochechas, lábios e língua sem força para a função o que dificulta a mastigação dos alimentos mais duros, promovendo o hábito de comida passada. A mastigação perde a sua característica normal bilateral para vertical ou unilateral afetando diretamente a articulação temporomandibular;
  • Deglutição: face à alteração da mordida, desenvolve-se uma deglutição atípica com interposição de língua e participação da musculatura peri-oral, forçando os dentes;
  • Fala: devido à interposição da língua na arcada dentária ocorre uma alteração nos sons, os músculos orais que o bebé usa quando realiza a sucção são os mesmos que usará para falar.


Referências Bibliográficas

Sertório, S. & Silva, I. (2005). As faces simbólicas e utilitária da chupeta na visão das mães. Revista de Saúde Pública, 39(2), 156-162. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v39n2/24036.pdf.

O’Connor, N., Tanabe, K., Siadaty, M. & Hauck, F. (2009). Pacifiers and breastfeeding. Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine, 163(4), 378-382. Disponível em: http://archpedi.ama-assn.org/cgi/reprint/163/4/378.